Bolsonaro na eleição de Criciúma
Era quase unanimidade no PL de Criciúma que Júlia Zanatta não seria candidata do partido e que na melhor das hipóteses, ela disputaria uma prévia, decidida por pesquisas, se ganharia ou não a vaga de Jeferson Monteiro. Mas ela tinha a palavra do deputado Eduardo Bolsonaro que tem a obediência política estratégica do senador Jorginho Mello, que é quem de fato decide as coisas no PL. Esta combinação bastou. Nesta segunda-feira, com medo de que uma outra candidatura, que não a de Júlia, avançasse, Jorginho tratou de antecipar o que dirá oficialmente quinta-feira em Criciúma: “A candidato a prefeita em Criciúma pelo PL é aquela que os Bolsonaro quiserem, e ponto”. O coordenador regional Márcio Búrigo só foi comunicado disso. Jorginho faz isso porque o objetivo do PL é eleger governador em 2022 e o que acontecer até lá é acessório.
Os pesos
Júlia Zanatta perderá não só muitos correligionários de PL, nem apenas será vista como quem entra pela porta dos fundos no partido. Ocorre que a sua confiança eleitoral não estava na gente do PL de Criciúma. Ela apenas precisa de um partido de aluguel para ser candidata e o PL ofereceu a vaga. Ela aposta no mesmo que aposta Jorginho Mello, na força dos Bolsonaro. Teremos Bolsonaro direto na propaganda eleitoral em Criciúma e quem sabe, um ou mais deles, presentes pessoalmente na rua em campanha pela Júlia.
Haja desafios
As dificuldades de Júlia Zanatta não param na indisposição que ela “comprou” ao ser imposta no PL. Sai de casa com a necessidade de fazer alguns ajustes, pois seu marido é lotado no gabinete do deputado Ricardo Guidi (PSL) e estava cotado para ser candidato a vereador pelo partido que é aliado do prefeito Clésio Salvaro (PSDB). Aliás, o sogro e admirador de Júlia, o vereador Júlio Colombo é alinhado ao prefeito e agora adversário da nora.
É do jogo político
Há duas formas de olhar o episódio “Júlia”. O primeiro é a imposição feita por Jorginho Mello por seus interesses na eleição de governador em 2022, quando pretende ter o apoio dos Bolsonaro. Por conta disso ele interfere na eleição de uma cidade. Ao eleitor isso pode parecer absurdo. O fato, entretanto, é bem mais comum do que se imagina. O segundo é aquilo que a política tem e não parece: “fidelidade”. Para ser fiel a Bolsonaro, Jorginho atropela o processo. Óbvio, espera a reciprocidade. Isso ocorre a toda instante, nem sempre tão aos olhos do eleitor.
Chamuscado
Na “paróquia” quem saiu muito chamuscado é o coordenador regional do PL, Márcio Búrigo. Ele não só teve que mudar o discurso aos seus, como teve que fazê-lo à grande massa. Na manhã desta segunda-feira ainda batia na tecla da sua estratégia como xerife do processo. A tarde teve que justificar o cumprimento da ordem e ver seus aliados despedindo-se do grupo. Aos que ficaram o que dirá agora? Que aguarda orientações de Jorginho ou da Júlia?
Coincidência
No instante em que conversava ao telefone com Márcio Búrigo, o senador Jorginho Mello estava em seu escritório com o agora ex-PL, Nícola Martins. Este deve ter feito suas reflexões sobre um episódio com Márcio Búrigo. E não é por uma discussão acalorada que tiveram em novembro do ano passado, mas também porque na antevéspera da convenção do PP, em 2016, Nícola foi tirado da lista de candidatos a vereador quando já tinha número e tudo. Naquela ocasião Márcio deu preferência a um pedido do então candidato a vereador e hoje deputado federal Daniel Freitas. Isso porque Nícola ficaria com o legado eleitoral de Sílvio Ávila Júnior, cujo eleitorado tinha muito em comum com o de Daniel.