Quando o tiro sai pela culatra
A notícia do dia, hoje, de novo um novo escândalo denunciado envolvendo o Governo do Estado. A compra de duzentos respiradores ao preço de R$ 33 milhões pagos antecipadamente. A empresa que vendeu prometeu entregar em abril, mas agora reviu o prazo e vai entregar no final de maio ou junho, quem sabe. A empresa aliás é daquelas quase de fundo de quintal, instalada no Rio de Janeiro. Já negociou alguns produtos da área de saúde com Santa Catarina. Foi escolhida sem tempo de o governo fazer licitação porque a pressa exigia. Lacrou-se uma dispensa de licitação. Tempo de coronavírus, tudo tem que ser urgente. Pacote pago e agora os equipamentos já não são mais os prometidos. Quando chegarem podem não servir e se for isso serão devolvidos. Isso, se chegarem a tempo de serem necessários ao combate ao coronavírus.
Um site de notícias denunciou, a coisa foi parar na Assembleia Legislativa, ontem, e deu o maior “furdunço”. Semana passada foi o Hospital de R$ 76 milhões. Em outros Estados estes hospitais custam em média R$ 10 milhões. Aqui em Santa Catarina sete, quase oito vezes mais. A denúncia foi feita e o governo desfez o negócio. Voltou atrás.
Com os respiradores não deve ser diferente. O negócio deve ser desfeito. O detalhe é que agora os 33 milhões já foram pagos. “E agora Moisés???”
Ah, querem um detalhe sarcástico? Sabe quando foram pagos os 33 milhões? Dia primeiro de abril. Dia sugestivo. No mesmo dia 33 milhões depositados à empresa. Primeiro de abril.
Ontem o governo anunciou “já estamos tomando providências...” E ai segue a balela: nela informa que afastaram a servidora que fez a compra. Mas estas compras não são feitas pelo Secretário de Estado da Saúde? E o governador não tem que liberar estes R$ 33 milhões?
Tem coisa errada ai. Mas sabem o que eu penso? Seja no caso do hospital de campanha, seja no caso dos respiradores???? Não é desonestidade do governador ou do Secretário é ingenuidade funcional mesmo. Poderia usar uma dessas expressões mais comuns tipo ingenuidade, amadorismo, despreparo ou outro adjetivo qualquer. E sabe porque penso assim? Penso assim porque olho para o que este governo fez até agora. Nada. Um ano e quatro meses e o que tivemos? É despreparo mesmo. Santa Catarina paga o preço da ingenuidade político-administrativo. O governo está enredado pela expertise política, não tem maturidade de articulação em nível algum e se apoia na muleta do diferente, do honesto, do novo e daí por diante.
Nós vamos pagar um preço alto. E de novo eu digo que a culpa não é deste governo que está ai. É dos governos que passaram, que nos enojaram com as suas práticas. Que não nos deram escolha. Digam que eu estou errado. Gostaria de estar. Quem sabe estou. Nós fomos empurrados a experimentar a inércia. Não sei se as crises como a do coronavírus amenizaram o que ainda poderia ser pior?
E agora vem as eleições municipais. Os senhores e senhoras já pararam para pensar que no âmbito dos nossos municípios, estou falando de todos não apenas deste ou daquele, mas em todos. As opções se restringem. Parece cada vez mais difícil essa escolha. As opções são mais pobres e incertas.
As opções se restringem e confundem nossos desejos de vivermos tempos melhores e nos deixam entre o que pretendemos trocar com o que que nos amedronta. Está difícil dizer isso, mas o jargão é esse: “na democracia o voto é a nossa arma”.
O problema é o tiro pela culatra.